01/11/2013

Poema de amor

"Que a minha passagem pela tua vida não seja leve ou indelével. É preciso que seja funda, e as marcas como cicatrizes de guerra.
Que não seja um amor de circunstância ou apenas lembranças agradáveis de alguns momentos de pureza.
Quero te dar um destino irrecuperável: não a embriaguez momentânea, mas o vício permanente. Que sejas depois de mim, outro homem.
Um ser marcado e massacrado por um amor continuo e que seja em ti uma benção e uma angústia tentacular, serei não apenas um dia de sol, mas também, as noites de inverno e as luzes sufocantes do verão.
Passarei e talvez me esqueças, mas te deixarei pesadelos e alucinações e passada a noite, uma aurora de plenitude. Lembrarás as palavras de ternura, mas também os estertores e as asperezas e esta minha dureza semilíquida de cactos e flor mineral e te farei ter saudade e angústia de tudo que eu disse e não disse, que fiz e não tive coragem de fazer.
Serás reconhecido como um mapa de uma terra distante que apenas um explorador de fato circunscreveu e disse os acidentes e sonhos líquidos.
E sobretudo te sentirás incorporado a um mistério que não saberás explicar, um desejo brutal e a ternura estelar compostos na cosmogonia de ser o que pensavas e o que temias dentro da absurda realidade de amar e ser amado.
Sem qualquer razão ou sentido que não sejam estes; da permanência na imortalidade".


Álvaro Pacheco

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